Por que o YouTube virou referência em saúde mental para jovens adultos
Nos últimos anos, o YouTube deixou de ser apenas um espaço de entretenimento e passou a ocupar um lugar central na forma como jovens adultos aprendem, falam e pensam sobre saúde mental.
Em 2025, um estudo publicado no periódico Health Communication analisou a atuação de influenciadores no YouTube voltados à saúde mental de universitários. A Forbes Brasil retomou esses dados ao discutir por que a plataforma se tornou uma das principais fontes de informação para esse público.
O estudo: influenciadores como apoio psicológico
O estudo em Health Communication analisou de forma sistemática o conteúdo de criadores que falam de saúde mental para estudantes universitários:
| Aspecto analisado | Resumo |
|---|---|
| Amostra de vídeos | 115 vídeos de 88 influenciadores focados em saúde mental para universitários. |
| Critério de relevância | Canais com mais de 5 mil inscritos e foco explícito em temas de saúde mental. |
| Base teórica | Teoria da Aprendizagem Social, de Albert Bandura (modelagem, imitação, reforço). |
| Desfecho principal | Identificação de estratégias de comunicação associadas ao aumento de comentários e engajamento. |
Na prática, o estudo investigou como esses influenciadores funcionam como modelos observáveis — não apenas transmitindo informação, mas também modulando atitudes, linguagem e formas de lidar com sofrimento emocional.
Quais estratégias de comunicação funcionam melhor
Os criadores mais eficazes não são necessariamente os maiores em número de seguidores, mas os que conseguem combinar autenticidade, proximidade e orientação responsável. O estudo e a análise da Forbes Brasil destacam quatro eixos de impacto:
| Estratégia | Como aparece nos vídeos | Efeito esperado |
|---|---|---|
| Presença social próxima | Tom de conversa, linguagem acessível, contato visual, vulnerabilidade e confissões pessoais. | Aumenta identificação, sensação de “estar conversando com alguém real”. |
| Narrativas pessoais | Relatos de crises, diagnósticos, tratamentos, recaídas e retomadas. | Reduz estigma, normaliza pedir ajuda, dá forma humana aos conceitos técnicos. |
| Chamadas à interação | Perguntas diretas, convites para comentar experiências, enquete, “comenta aqui se…”. | Fortalece senso de comunidade e aumenta engajamento nos comentários. |
| Aliança com organizações de saúde mental | Menção a instituições, campanhas, ONGs, serviços de apoio e materiais oficiais. | Amplia credibilidade e aproxima o público de recursos formais de cuidado. |
Um dado importante: os micro-influenciadores (entre 5 mil e 100 mil seguidores) tendem a ser mais persuasivos que mega-influenciadores, possivelmente por transmitirem mais proximidade e autenticidade.
Por que o YouTube alcança tanta gente
O alcance da plataforma ajuda a explicar seu papel crescente na conversa sobre saúde mental:
| Dado | Implicação para saúde mental |
|---|---|
| 2,7 bilhões de usuários ativos mensais | Qualquer tema relevante (como depressão, ansiedade, burnout) rapidamente encontra audiência massiva. |
| 95% da população com internet assiste a vídeos | Para muitos jovens, o YouTube é a primeira fonte de busca, antes de serviços formais. |
| 20% dos adolescentes que buscam info sobre depressão usam YouTube | Vídeos se tornam porta de entrada para nomear sintomas e procurar ajuda. |
| Eficácia em aumentar conhecimento sobre saúde mental | Estudos mostram melhora de literacia em saúde mental após exposição a conteúdo educativo. |
Em muitos casos, jovens e universitários preferem aprender com vídeos curtos, diretos e pessoais em vez de textos acadêmicos ou cartilhas formais. O YouTube preenche exatamente esse espaço.
Benefícios e alertas da “psicologia digital” no YouTube
O impacto dos conteúdos de saúde mental no YouTube é ambivalente: pode ser profundamente positivo, mas também abrir brechas para riscos importantes.
Benefícios
- Aumento da literacia em saúde mental: jovens passam a reconhecer termos, sintomas, possíveis tratamentos e quando buscar ajuda.
- Redução de estigma: relatos pessoais de influenciadores normalizam sofrimento psíquico e quebram a ideia de “fraqueza” ou “frescura”.
- Acesso rápido e prático: ideal para quem precisa de informações iniciais ou não tem acesso imediato a serviços de saúde.
- Senso de pertencimento: comentários e comunidades criam a sensação de “não estou sozinho”.
Riscos e limites
- Auto-diagnóstico excessivo: ao reconhecer sintomas em vídeos, parte do público tenta se diagnosticar sozinho, o que pode gerar ansiedade, rótulos indevidos e tratamentos inadequados.
- Relações parassociais: vínculos unilaterais com criadores (sensação de amizade íntima sem reciprocidade real) podem reforçar solidão, dependência emocional e idealização.
- Conteúdo superficial ou impreciso: relatos pessoais não substituem avaliação clínica; conselhos generalistas podem ser inadequados para casos complexos.
- Saturação emocional: consumir inúmeras histórias de sofrimento e trauma pode intensificar a própria angústia, em vez de aliviá-la.
Quando o YouTube ajuda – e quando pode atrapalhar
De forma prática, é possível pensar o uso do YouTube em saúde mental em termos de cenários mais seguros e cenários de maior risco:
| Situação | Uso saudável da plataforma | Alertas clínicos |
|---|---|---|
| Busca inicial de informação | Vídeos educativos, canais com fontes citadas, indicações de serviços profissionais. | Tomar vídeos como diagnóstico definitivo, sem avaliação. |
| Vivência de sintomas moderados | Conteúdo que orienta a observar sinais e procurar ajuda profissional. | Substituir terapia por “maratonas de vídeos de autoajuda”. |
| Crises intensas (ideação suicida, automutilação) | Conteúdos que trazem psicoeducação e encorajam buscar ajuda emergencial. | Vídeos que romantizam sofrimento, gatilham comparação e reforçam desesperança. |
| Rotina cotidiana | Vídeos curtos que motivam autocuidado e normalizam pedir ajuda. | Dependência emocional de um criador específico para “aguentar o dia”. |
Conclusão: porta de entrada, não diagnóstico final
O YouTube se consolidou como uma força real na forma como jovens adultos se relacionam com o tema saúde mental. Estudos recentes mostram que influenciadores, quando usam narrativas autênticas, proximidade social e chamadas à interação, podem aumentar conhecimento, reduzir estigma e incentivar a busca de ajuda.
Ao mesmo tempo, o consumo desregulado de conteúdo pode intensificar auto-diagnósticos, relações parassociais e frustração com a própria vida. A chave está no enquadramento:
- Usar o YouTube como porta de entrada para informação, não como substituto de atendimento.
- Valorizar criadores que indicam limites, referências científicas e canais formais de cuidado.
- Entender que vídeo não faz diagnóstico — quem faz é o encontro clínico.
Referências e leituras recomendadas
- Artigo na Forbes Brasil – Por que o YouTube se tornou a principal fonte sobre saúde mental para jovens adultos?
- Health Communication – estudo sobre influenciadores de saúde mental para universitários no YouTube.
- Computers in Human Behavior Reports – uso do YouTube por adolescentes em busca de informações sobre depressão.
- Journal of Medical Internet Research Mental Health – efeitos de vídeos no aumento do conhecimento sobre saúde mental.
- Estudos sobre relações parassociais, solidão e consumo de YouTube em jovens adultos.
- Albert Bandura – Teoria da Aprendizagem Social: modelagem, imitação e reforço como base do aprendizado observacional.

PSICÓLOGO E PSICOTERAPEUTA
– Formação Psicologia PUC/SÃO PAULO – CRP 06/37062
– Pós Graduação – Saúde Mental na Atenção Primária em Saúde – Fac. Albert Einstein
– Avaliação Multidimensional Cognitivo e Emocional da Pessoa Idosa ( AMPI )
– Fronteiras do Envelhecimento – Fac. Albert Einstein
– Neuropsicologia da Memória – Fac. Albert Einstein
– Associação ABEPS – Associação Brasileira de Estudos e Prevenção do Suicídio
